Estamos em meio de uma grande polêmica. Recentemente, para ser mais exato, dia 12 de abril, nosso atual secretário, o músico Chico César, que ganhou notoriedade a cerca de 20 anos e já teve suas músicas gravadas por grandes artistas da MPB como Maria Bethânia, Daniela Mercury entre outros, deu uma declaração afirmando que como representante do governo do estado da Paraíba "O estado não pretende pagar duplas sertanejas, não pretende pagar forró de plástico." O "forró de plástico" como foi rotulado o forró que é feito hoje por bandas como Aviões do Forró, Garota Safada entre tantas por ai, é o que hoje domina o atual mercado do forró no nordeste. A declaração do nosso secretário de cultura esta dando gerando uma grande polêmica. Comentários nas redes sociais não param e ass pessoas estão divididas cada uma defendendo o seu ponto de vista, e hoje vou falar um pouco do meu.
Primeiro é engraçado ver um secretário de cultura rotulando música. Um cara com o discurso e pertencente a classe musical que o Chico César faz parte, não deveria rotular música e muito menos ter um discurso tão radical. Algo que me faz pensar em a uma espécie de "ditadura" musical. Não na forma de proibição mas sim de inibir qualquer tipo de música, banda ou estilo. Outro ponto que não consigo entender, são os fatores que levam alguém julgar o que é cultura e o que não é? Como se faz isso? Essa música é cultura, essa é de "plástico". Agora arte na forma de música é algo que vai passar por um processo de pré-conceito, na forma literal da palavra, e terá um alvará dado pelo governo do estado de que "esse nós pagamos". Pessoalmente eu esperava mais de um artista como o Chico César quanto a questão de julgar ou subjugar uma arte e rotulá-la mesmo que ela ao seu gosto pessoal seja ruim.
Segundo, vamos falar de cachê. Realmente temos valores exorbitantes sendo cobrados por bandas de forró. Porém existem dois fatores que fazem que uma banda cobre um preço pelo seu cachê: público e gente que pague. Olhando da ótica de um empresário: empresário paga o cachê a uma banda dentro de uma realidade aonde ele enxerga que vai ter lucro. Afinal de contas é esse o seu negócio, portanto a banda vale o quanto ela coloca de público em um show. Acho que todo artista independente do seu segmento sonha em poder um dia cantar para multidões e ganhar um cachê que ultrapasse as cifras dos 50, 100 mil reais. Ou vai me dizer que o senhor secretário não gostaria de cobrar um cachê desses por um show? Mas o mesmo secretário também fala que o estado esta defasado, que as verbas são bastante reduzidas pois os cofres públicos estão amarrotados em dívidas e não é cabível que uma cidade de 15 mil habitantes pague um cachê de 150 mil reais a uma banda de forró de plástico. Concordo senhor secretário, mas quanto que se paga por atrações como Maria Bethânia? Geraldo Azevedo? e vários outros artistas que foram citados pelo nosso pelo senhor em entrevistas como artistas "culturais"? Não estou comparando nem dizendo que é ruim ou bom, só estou falando de valores, sei que esses artistas não são baratos, portanto vamos equiparar as coisas e termos consciência na hora de falarmos em valores exorbitantes.
Terceiro ponto: mercado. Um dia, não me recordo aonde li ou ouvi, mas sei que aonde temos algo para oferecer e existe alguém para consumir temos um mercado. Então acho que independente do artista de que se fala, se o artista tem seu produto (música) atingindo uma quantidade "x" de pessoas, ele já faz parte de um mercado. Usando nosso secretário como exemplo quem não lembra nem nunca cantou "Mama África", "A Primeira Vista" grandes sucessos do mesmo? O senhor atingiu como artista o ápice de reconhecimento de causar inveja a muita banda de forró de "plástico"ou não. Com esse sucesso nosso secretário entrou no "famigerado" mercado, assinou contratos com uma gravadora, tocou em rádios, faturou o seu suado e merecido cachê. Eu tenho orgulho de dizer que sou do mesmo estado que Chico César. Um artista de quem não se tem o que se falar, aplaudido e gravado por muitos. Mas aposto que nessa época seu cachê subiu, que o senhor foi presença cativa em programas nacionais fazendo parte desse mercado. A fórmula é muito simples: o senhor era a "bola da vez", sua música chegou as pessoas e sua presença em rádios e TV dava audiência o que trazia renda para os veículos de comunicação. Essa era a contrapartida para todo aquele sucesso. Não adianta culpar todos os problemas que vários artistas enfrentam ao mercado. O mercado toca aquilo que as pessoas querem ouvir ou mostram aquilo que as pessoas querem ver. É um negócio e como negócio tem que render. É um círculo vicioso:
Portanto, concordo em partes com Chico César. Acho que é de extrema importância termos investimentos na nossa cultura. Um povo sem cultura é um povo sem alma, sem vida. Sei que existem vários festivais culturais espalhados pelo interior do estado assim como artistas e que precisam de renovação, investimento e um olhar mais direcionado da mídia e das pessoas. Porém querer "enfiar" isso de garganta abaixo? Isso pode causar um efeito completamente contrário fazendo com que a população revolte-se e crie repulsa a todo e qualquer tipo de manifestação cultural. É igual a uma criança que você obriga a fazer algo a vida inteira e no dia que ela puder a primeira coisa que ela faz é deixar aquilo e nunca mais querer nem ouvir falar. Secretário, vamos repensar melhor. Quer fazer um grande projeto cultural? Reúna-se com a secretária de educação, crie um projeto aonde as crianças da rede estadual e particular de ensino sejam levadas a conhecer de perto as manifestações culturais. A terem contato com a música, a pintura, o teatro e as artes em geral e desperte nelas o interesse por tudo que chamamos de cultura legítima do nosso povo, mas não aja de forma ditatorial e obrigue as pessoas a engolirem toda essa "cultura" de forma radical e imposta, já não basta o preconceito que o forró sofre lá fora? Até aqui? O senhor é muito melhor que isso!